Analfabeto Sentimental
Já andei todo o alfabeto, algumas vezes repeti, reli, reescrevi e reconheci todas as letras. Me diverti, aluguei uma letra aqui, outra acolá. Me rendi aos encantos do bê-a-bá. Juntei as letras, formei palavras, formei frases, textos, poemas, piadas, livros e por fim, me formei. Formei calos nos dedos, queimei neurônios, tornei-me quase um Word, e quando já não aguentava mais ouvir a moça do antivírus alertando em meus ouvidos, desenterrei os cadernos da gaveta bagunçada. A velha caneta BIC sentiu a minha falta, e meus calos sentiram a falta dela. Escondi-me no meu humor negro, na minha timidez e me contentei em ver risos alheios com meus comentários sem sentidos. Havia muita verdade camuflada em meus textos que se propagavam a cada gargalhada, e rir de mim mesma era meu maior conforto. Subi no palco, arrisquei um improviso pra ironizar minha timidez e mostrar quem é que manda. E aqui estou conversando com o Word, analisando a voz da moça do antivírus, e olhando a caneta B